A pergunta que não para de martelar na cabeça…
Como lidar com a “Síndrome do Impostor” no momento de transição de carreira para Produtos?
Com certeza você já deve ter ouvido falar sobre a “Síndrome do Impostor”. Ou, numa linguagem mais popular, conhecida como “Sabotador”. O termo foi usado pela primeira vez em 1978 por 2 psicólogas: Pauline Clance e Suzanne Imes. As psicólogas e pesquisadoras definiram a condição, como uma experiência individual. Mas, vamos aprofundar o assunto.
Nas palavras do Dr. Gonzalo Ramirez , psicólogo e clínico geral: “A Síndrome do Impostor é vista como uma desordem de autopercepção, que não chega a ser classificada como uma doença mental, porque os sintomas apresentados costumam ser os mesmos sintomas que são encontrados em outros transtornos como depressão, ansiedade e baixa autoestima”. Ou seja, a pessoa que desenvolve a síndrome constrói, dentro da cabeça dela, uma percepção de si mesmo de incompetência ou insuficiência. Ela se sente incapaz de internalizar o sucesso que obteve em algum momento na vida. Cria pensamentos negativos sobre ela mesma, sabotando todas as qualidades, virtudes e talentos que possui. Se acha uma fraude e que não merece qualquer reconhecimento.
Existe um fato curioso que eu gostaria muito de compartilhar com vocês…
Há algumas décadas atrás, não ouvíamos falar muito sobre essa síndrome, porque não tínhamos tanta concorrência e competitividade entre as pessoas. Hoje a cobrança em “ser o melhor” é muito maior em algumas áreas de trabalho como: educação, tecnologia, saúde, esportes, negócios, entre outras… É necessário ficar atento, pois a síndrome geralmente atinge pessoas mais inseguras e que possuem facilidade em internalizar falhas e críticas, nos momentos de desconforto, fragilidade, dúvida ou transição. Novos cenários e ambientes também são propícios para aparecer.
Logo, podemos dizer que a síndrome tem uma conexão com o desenvolvimento de capacidades, habilidades e não-merecimento. Também é importante lembrar que não existe uma idade ou um cenário para a desordem aparecer. Acontece em todas idades e profissões, mas geralmente em momentos onde a pessoa está sendo avaliada pelo seu desempenho e/ou está com o holofote sobre si. O medo de errar, de não conseguir entregar, de ser um desastre, de fracassar é enorme. Um exemplo de causa comum, que podemos citar seria um nível alto de cobrança na infância. É uma das grandes razões dessa autopercepção, mas a causa também pode vir do convívio social. O ambiente pode ajudar a piorar a síndrome, dependendo do modelo mental da(s) pessoa(s) que estão inseridas no mesmo cenário.
A seguir vamos falar sobre os sinais e sintomas da Síndrome do Impostor.
- Necessidade de se esforçar demais! Você acredita que precisa se esforçar mais do que as outras pessoas, por ser incapaz e insuficiente. Mostra o excesso de trabalho como uma forma de justificar o seu desempenho…Se fizer isso, só ficará mais esgotado(a) ou ansioso (a).
- Auto sabotagem! Você se acha um fracasso, que em qualquer momento, alguém melhor vai aparecer e expor suas deficiências. Por medo, acaba executando menos tarefas ou aquelas tarefas com menos valor, para não correr o risco de ser julgado.
- Adiar tarefas! Você deixa tarefas e compromissos importantes para depois. Ou demora mais do que o normal para realizar uma tarefa, por medo de ser mal avaliado.
- Medo de se expor! Você tem medo de chamar atenção para si! Isso mesmo! Então está sempre realizando tarefas menos importantes, para não aparecer. Não quer aparecer, chamar atenção!
- Comparação com os outros! Você é perfeccionista, está sempre comparando o seu trabalho com os outros, exige muito de si e acha que tudo que faz ou realiza nunca está bom o bastante.
- Querer agradar a todos! Você busca aprovação no ambiente que convive. Tenta causar boa impressão, força ter carisma e empatia com o objetivo de agradar os demais. Tem medo de ser substituída!
Diante de todos esses comportamentos, você já pode imaginar os impactos que esses comportamentos podem causar na vida de um profissional. Não são poucos! Por isso é importante sabermos identificar para tratar.
A seguir, vou listar alguns deles:
Cansaço Mental: o esgotamento mental pode levar o profissional a desenvolver problemas psíquicos como Burnout ou Depressão agravando o estado de saúde. Com isso pode ser afastado de suas atividades ou até mesmo ser dispensado do emprego.
Insatisfação: como profissional não acredita no seu potencial e no seu sucesso, ele sempre acredita que poderia ter feito e entregue um trabalho melhor. Nunca está satisfeito com o que realiza.
Produtividade Baixa: a produtividade, na visão de quem possui a Síndrome, é sempre trabalhar muito, fazer muito, sem pensar na qualidade e no valor do que realiza. Logo, absorve muitas tarefas sem valor, não consegue realizar todas e ainda compromete as entregas.
Sobrecarga: quem possui a Síndrome não sabe dizer “não” para o trabalho. Recebe cada vez mais tarefas sem hesitar, no intuito de demonstrar que está sendo “produtivo”. O resultado é uma sobrecarga, pois trata todas as tarefas com o mesmo peso, sem priorizar o que é mais importante.
Perda de Oportunidades: pra mim essa é a pior de todas… A perda das oportunidades! Oportunidade é algo que criamos para nós mesmos, quando realizamos um bom trabalho, fazemos uma grande entrega ou valorizamos nosso esforço e conhecimento. Imagina você receber essa oportunidade, de ser promovido para um cargo de liderança, uma posição de especialista e recusar por achar que não vai dar conta, que não vai conseguir ou que vão descobrir que você é uma fraude e não representa nada daquilo que esperavam… é muito triste isso!
Quando você recusa uma oportunidade, ela vai para as mãos de um outro profissional, que na maioria das vezes não teve o mesmo empenho, expertise e vontade de fazer acontecer, como você. O resultado desse cenário traz lamentações e reclamações no futuro. Vai dizer que “fulano(a)” ou “sicrano(a)” roubou a sua vaga!
Não seja você essa pessoa, por favor!
Não faça isso com você!
Agora… se pensarmos numa Transição de Carreira? Numa Transição de Papéis?
Você acha que é possível desenvolvermos sabotadores durante esse período?
A resposta é simples … Podemos sim!
Sabemos que a transição de carreira pode ser um passo difícil, e a procrastinação pode assumir o comando por mais tempo que imagina, e a cada passo é importante saber quais são os seus gatilhos e evitar a síndrome do impostor.
Vamos pensar num exemplo, de uma pessoa em transição para exercitar, em 7 passos, não se limitando a esses casos:
1 – Despertar o interesse em transição de carreira para produtos:
Quando falamos de produtos, pensamos logo na necessidade dos clientes e usuários. O que podemos criar ou melhorar para ajudá-los? Logo, quando procura entender qual é a necessidade, o negócio você assimila melhor o que é o produto ou serviço.
2 – Buscar SoftSkills e HardSkills para transição para a área de produtos:
SoftSkills está relacionado a suas competências pessoais.Ex: proativo, pensamento crítico, etc. HardSkills está relacionado a suas competências técnicas. Ex: conhecimento teórico e técnico que adquiriu através de capacitações feitas. Logo, avalie quais SoftSkills e HardSkills são necessários para trabalhar com produtos. Identifique as que você já possui e as que você precisa desenvolver ou melhorar, escreva um plano de ação com datas de realização e se comprometa com todas as atividades que descreveu para alavancar cada competência.
3 – Iniciar a prática com área de produtos:
Identifique espaços que você possa praticar e até mesmo aprender sobre produtos com outros profissionais. O trabalho voluntário em eventos e comunidades abrem as portas para você praticar o seu aprendizado.
4 – Procurar vagas para produtos no mercado:
Acesse suas redes profissionais e busque vagas para trabalhar com produtos. Aquela vaga que solicita do profissional as competências que você possui, inscreva-se!
5 – Participar de entrevistas para produtos:
As entrevistas para papéis de produtos são focadas no seu comportamento, como você levanta a necessidade, como pensa em melhorar os produtos, como é o seu relacionamento com o seu time e com os executivos da empresa. Perguntam também, se você utiliza ferramentas, métodos, porque você escolheu trabalhar com produtos e porque a empresa deveria te contratar.
6 – Aceitar as propostas:
Analise as propostas pensando na evolução do seu trabalho com produtos. Pense em ambiente, cultura, oportunidades de crescimento, plano de carreira, benefícios a curto, médio e longo prazo. Aceite a proposta que tenha mais haver com você, com o que planejou para sua vida profissional.
7 – Executar o trabalho com produto nos primeiros 90 dias:
Toda mudança de ambiente, cultura mexe conosco e os primeiros dias trabalhando com produto não é diferente. Na maioria das vezes você vai chegar numa área que já está formada, as pessoas já se conhecem e trabalham juntas. Nesse período bate um certo medo. Não surte! Pare, observe, ouça, converse, pergunte, tire dúvidas. Use esse período para conhecer o produto, as pessoas, a empresa, os processo e ferramentas. Assim terá mais confiança e segurança para propor melhorias e inovações no futuro. Comece devagar, adquira conhecimento primeiro, para depois praticar. Esse é o processo de aprendizado.
Tenho certeza que se seguir todas dicas e passos vai conseguir passar pela Transição de Carreira com tranquilidade e ainda vai ajudar outras pessoas, que poderão futuramente estar na mesma situação, com dedicação e determinação.
Espero ter ajudado 🙂